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quarta-feira, junho 09, 2004

Culpas Divididas 

A pena de morte é ao mesmo tempo a censura e a celebração do espírito assassino do homem.
Se por um lado pune todos quanto cedam à concretização do maior dos crimes, tirando a vida a outro ser humano, por outro pune-a com pecado semelhante, negando a pronto responsabilidade moral pela retribuição já que o carácter do outro justificava a sua morte.
Mas se eu souber de um assassino e lhe tomar a vida, sou eu, sózinho, assassino. Sou eu o abominável. O que não merece viver na sociedade ou fora.
O que não parece entrar na consideração da pena a que condenamos esses indivíduos, é que todos nós somos animais assassinos dadas as circunstâncias certas. Podemos raciocinar, é claro, mas solemente até um ponto em que as emoções e o ímpeto nos jogam para a violência à qual não queremos escapar. E matamos.
Sempre foi assim. Negá-lo é negar a origem animal de todos nós. Quando ameaçados, quando encurralados mataremos sem dúvida, e ao fazê-lo, somos censurados.
A pena de morte é então uma punição ao homem por não ser racional a todo o tempo e por não ter controlo sobre os seus repentes violentos... simplesmente, por se ser humano. Não punimos o homem, punimos a falha.
A falha de todos. A que todos, gente boa e honesta, má e trapaceira, estamos sujeitos. O homem é potência do bem e do mal, e não deve ser punido por ser emocional.
Mas e então?...
Libertar os assassinos não parece correcto! Mas e os que cá estão fora? Não somos todos assassinos à espera de uma circunstância?
Separar os casos dos crimes "justificáveis" e os atrozes, libertando os primeiros e executando os segundos não esconde o facto de que sempre que saímos à rua estamos sujeitos a ser objecto de um crime violento, e mais perturbador ainda... cometê-lo nós próprios. Basta pensar na reacção ao assassinato de um familiar, pessoa próxima, de facto UM PERFEITO ESTRANHO pode ser desculpa suficiente para nos lançarmos de maneira
impensávelmente terrível sobre o assaltante.
Dentro e fora da cadeia somos seres de circunstância.
Se não se concebe a libertação de assassinos consumados, não lavemos as mãos no seu sangue, como se fossemos diferentes. Como se condenar à morte, não fosse também assassínio. Se desejamos o seu sofrimento, não o terminemos pois então?
Que pressa de apagar problemas!... De limpar a consciência com outro olho, outro dente.

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