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quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Uma questão de Fé 

No mundo animal, são imensos os mecanismos desenvolvidos para assegurar a paternidade por parte dos machos, porque as fêmeas, essas, nunca duvidam da maternidade sobre o ser que delas é extraído.
Os cães, coitados, veem o seu abono inchado depois do acto que os prende à feliz cadela, e dela não se desliga, até o sémen ter supostamente feito o seu trabalho. Depois de fertilizada, a cadela mostra o dente a futuros pretendentes.
No caso humano, dada a receptibilidade feminina para o coito independentemente da sua disponibilidade biológica para conceber, não há como assegurar a paternidade para além de qualquer dúvida. Uma mulher é capaz de ter relações com quantos machos entender, sem contraceptivo se assim o negligenciar e ainda assim, voltar ao homem com quem estaria comprometida e acusar-lhe a paternidade. Pode acontecer.
E admitindo que pode acontecer, constatando que nenhum homem está com a sua companheira 24 sobre 24, é justo afirmar que qualquer reconhecimento de paternidade é um acto puro de fé. Salvo análises ao DNA de ambos os pais, e características que pode (ou não) partilhar com o dador alegre, tudo o resto é entregue à especulação irrealista. Irrealista, porque sem a comprovação irrefutável, não há mesmo como garantir a 100% que o nosso filho também seja meu.
Não que a paternidade necessite assim tanto da componente biológica... o pai é quem educa, não quem salta à espinha da mãe. O ideal, não será necessário dizer, será a conjugação dos dois.
Não pretendo aqui afirmar que toda a mulher ande neste frenesim de cópula, até porque a maioria se fecha (literal e figurativamente) à ideia de sexo com múltiplos parceiros em múltiplas oportunidades num curto espaço de tempo.
Os tempos estão a mudar desde a revolução sexual. E o tema da confiança na paternidade biológica estará cada vez mais em foco. Haverá, confio, uma altura em que as análises ao DNA para verificação da paternidade não serão considerados um escândalo, mas antes uma medida de asseguramento. Se os contratos pré-nupciais vingaram... também vingará esta.

Teoria da Violência Doméstica 

Violência.
Tratarei da violência numa esfera menor como a violência doméstica. Por muito que berrem as suas atrocidades, ainda têm de ser descriminadas muitas violências por aí antes de chegarmos à profundidade da doméstica.
Na sua origem temos a frustração (incapacidade de ultrapassar a incapacidade de ultrapassar um obstáculo) que pode ser auto-infligida ou infligida por outros, há de tudo. Há uns que se picam mais fácilmente que outros. Há quem nem se pique por pouco, e há quem se pique por porcarias. Até agora tudo "bem".
Peguei na violência doméstica como um exemplo. A frustração é a responsável pelo rompimento de todas as relações, seja porque a outra pessoa é violenta, uma besta, uma idiota ou simplesmente não está ao pé de nós.
Imaginemos o caso do marido violento, vem para casa, manda vir com a burra de carga e bate-lhe antes de saír para o café. Ora... o que mais atormenta a mulher não serão as feridas infligidas, mas a sua incapacidade física e psíquica de retaliar. Esta poderia muito bem impôr um respeito ao Romeu que o faria pensar duas vezes antes de lhe levantar sequer a voz. É a assumpção dessa incapacidade que frustra a mulher de tal maneira, que se fecha sobre si, e por sua vez, volta a frustrar um já frustrado marido, que não sente da sua companheira uma reciprocidade de sentimentos, seja raiva seja amor, e finalmente, chega o fim da relação. Os dois associam-se mutuamente à angústia provocada pela frustração e afastam-se.
A sublimação da violência por parte da mulher é, portanto, talvez incrivelmente, a causa dos divórcios.
O principio da retribuição exigia que qualquer agressão física ou psíquica fosse igualada para que o equilibrio, essencial ao amor fosse atingido ou mantido.
Sejamos honestos ao ponto de admitir que se alguns maridos começassem a levar de volta, as agressões eram mais meditadas.
Se os impulsos forem negados, no entanto, a frustração surge de qualquer maneira no marido e embora não a transmita violentamente para a mulher, a sua apaticidade acabará por a frustrar de qualquer maneira e a relação termina na mesma.
Terminar de vez com a violência é portanto um processo mais complicado do que pregam os pacifistas. Trata-se da negação de um impulso, uma réstia de instinto animal da qual não nos conseguimos separar. Nem devemos, como se vê, visto que a fuga ao que somos, nos frustra. Bons ou maus, não queremos restricções ao nosso comportamento.
Pois bem...
Se a violência doméstica fosse repartida entre homem e mulher ao mínimo sinal de descontentamento, não falo solemente em violência física, mas em violência tão simples quanto retratar o seu dia de forma crua, as suas vontades mais reprimíveis, a fonte de todo o descontentamento que com ele traz para casa. Se fosse dado a conhecer à mulher o porquê da sua insatisfação através de uma série de berros e palavras tortas, a pressão e a tensão desvaneceriam.
Se institucionalizada a expressão livre de frustrações, os problemas entre casais nunca escalariam sequer à violência.
A violência portanto, luta-se com alguma violência.
O não lidar com as evidências, é como encher um balão sem nunca libertar ar.
A evidência é que, apesar de racionalizarmos, as nossas emoções controladas não podem ser controladas a toda a altura, nem o devem ser. Correndo o risco do produto acumulado dos nossos problemas, se condensar num só momento fulminante. Quer consista da quebra da relação, quer de uma libertação momentânea de toda a raiva violenta dentro de nós.
Sem manifestações vulcânicas de fogo e fumo, o planeta explodiria.
Ventilar a mínima frustração, não negá-la, é o fim último desta teoria.
É o acumular de motivos que leva à maioria das guerras (não Bush, não a tua) e promovendo a escolha, não só a compaixão, nem só a violência, amenizaria os atritos entre as pessoas e nações.
Não digo que se negoceie sempre violência com violência no caso doméstico. A escolha também recai sobre se a relação merece o incómodo ou não. Há frustrações que nem a violência entende.



sábado, fevereiro 07, 2004

O que ficou para trás, o que está para a frente 

Tudo o que ficou para trás foi um degrau.
Passei por dezenas de poemas que falavam de desgostos amorosos, desilusões gerais e romantismos, tudo quanto não fizesse ainda algum sentido, não publiquei nesta brincadeira, pois, não obstante reconhecer o valor que tiveram e o lugar que ocupam na minha subida ao monte de trampa cujo cume ainda não vejo (mas me garantem tá lá p'ra cima) não reconheço a utilidade de passar a quem tropeçar neste blog o que por mim não passou.
Gatafunhos.
Julgo-me tão evoluído agora, 6 anos volvidos, não julgo?
Bem... mais evoluído estarei. Daqui a uns tempos envergonho-me de qualquer outra coisa que faça um dia destes. É a ordem das coisas. Ai de quem a queira antecipar criticando. Mas isso são meditações... outra história.
Os que ficaram por cá têm como único papel marcar a vida que ficou em poema, para talvez comparar com as teorias que vêm a seguir, desprovidas senão em completo, em grande parte, do conteúdo ilusório que me caracterizou há apenas um punhado de areia atrás. Altura que tanto me orgulhou.
Orgulho-me das teorias que seguem neste blog como um louco da sua loucura, são minhas, e a tua é outra. A minha é bela, a preto a branco, crua, porosa... a tua é outra. Estas são minhas. São diferentes.
A teoria só é pura antes da prática, que a corrompe de alguma maneira, pela sua intromissão impura com o mundo físico. Depois do contacto... as leis da causalidade e do acaso aplicam-se, distortem e abrem à excepção, quem sabe, até resultar na morte da teoria, incapaz de se provar por si própria, sem o empírico.
Estas meditações são elaboradas de boa fé por um autor desiludido pela perda de inocência causada pela constante dissecação do comportamento humano. Pelo diminuir das surpresas. Pelo desvendar da ilusão. Pelo reduzir à fórmula. A tudo isto junto o meu contributo, esperando que consiga ajudar a esticar a corda tão fina tão fina, que rebente e voltemos ao estado de crianças, conscientes de que mesmo não sabendo nada do mundo, conseguimos ser felizes ainda assim com arco-íris e outras mariquices que tais.
Para além de vos fazer ler, fazer-vos pensar é o que pretendo.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

O meu poema inacabado 

És...
Tudo para mim
Um novo começo
Um fôlego do fim
Que por muito que vagueie, nunca esqueço

És...
A força de uma alma
O impulso libertador
O mundo na minha palma
Que tudo tendo, não perde fervor

És...
O que queria e me surpreendeu
A ave que não se caça
A história que ninguém leu
O limite que me ultrapassa

És...
O claro inexplicável
O raro alegre fado
De expressão mais amável
O meu poema inacabado
Que inacabado... me completa

À grande deceptora 

Passas por mim...
Como um raio de sol numa tela
Iluminando-me de tal modo
Que me pegas fogo
Sopras as cinzas e partes
Com um adeus repentino...
Inesperado
Na sombra tudo o que tenho...
São memórias tuas para me aquecer
O teu brilho, as tuas formas incertas
Contrastando com a certeza
Do bela que sei que és
Não porque te vejo ou toco
Ou fazendo uso de tudo aquilo que fiz até hoje
Mas de um sentimento tão profundo
De fé e devoção
Que a qualquer outro
Soaria a loucura
A mim? Não sei dizer
Tão cedo salto e rio
Como me torno um recluso sombrio
Esperando-te...
Com tudo para dizer
Ansiando encontrar-te sem te ver
Para então adorar uma Deusa...
Sem cara ou corpo

Passas por mim...
Como água sobre areia
Encharcando-me
Até que me trespassas com um "adeus"
E tudo o que tenho são gotas
Benditas gotas que não me deixam esquecer-te
Sózinho...
Para onde andas tu sol quando vejo a lua?
E tu lua, quando...

Não sei dizer
Tudo o que faço ou vejo
Quando não estou contigo

Sei que me sinto tão só
Com um frio trepidante
Com uma saudade avassaladora
Um vazio cá dentro
Tu algures lá fora
Uma certeza, uma grande vontade
A de te beijar
Quando cai o pano

Foi 

Desculpa
Pelo que fiz
E não fiz
Pelos beijos que falhei
Pela alegria que guardei
Quando precisavas de animar

Porque sou um infeliz
Porque preferia pensar agora
Que sofreste quando te deixei

Desculpa-me
Pelo arrependimento
Que confesso...
Não sinto
Pois a ordem das coisas é esta
E o homem não foi feito para amar
Mesmo tendo mulheres como tu
Andando sós pela rua
E eu a deixar-te ir

Preferia que estivesse a chorar
Mas não estou
Porque gostei de gostar de ti

A ti azeda Anabela 

Chego à conclusão
Que tu não és
A mais bela das mulheres
Tens algumas qualidades
E uns quantos defeitos
És por vezes fraca e insegura
Não tens a mínima pista
O mínimo indício do que é o amor
És vaidosa, e ocasionalmente convencida
Subjugas e chegas mesmo
A tratar mal os que te rodeiam
Porquê?
Mas porquê?
Os teus horizontes são limitados
Ao pequeno ambiente
Que te circunda
E nem esse conheces muito bem
És baixa e antipática
Tens o teu cabelo
Curto e pouco feminino
Uff...
Tens mesmo bastantes defeitos
Por isso...
Porquê?
Mas porquê?
Porque é que te amo desta forma?
Identifico e reconheço
Tantas falhas e defeitos
Numa só pessoa
Porque é que gosto de ti?
Não sei... não sei mesmo
Que raio!
De entre tantos defeitos meus
Tenho gosto que tu sejas um deles

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Um dia na praia 

Imagino-te rodeada de areia
Em palco, o mar
A luz de lua cheia
Azul e preto para onde olhar

Voos rasantes de gaivotas
Cantando sobre as ondas
Absortas na sua rotas
Mecânicas nas suas rondas

Quero-te de cabelo solto
Fuso com o vento
Pleno, livre e envolto
Na paisagem que me dá alento

De olhos fechados
Me vejas enquanto chegado
Gaivotas e mar calados
Dando boas vindas ao desasossego

O sonho 

Como crianças nos olhamos
Calados num raciocínio secreto
Enquanto nos estudamos
Num embaraço discreto

E então... sorriso
Aberta a porta
Num timming preciso
Que a timidez corta

Chegaram os "olás"
E das palavras... um beijo
Um abraço fugaz
Fulgoroso como o desejo
Breve como um sonho..

The end, when 

The end, so clear
The pale fate of darkness
Befalls us the bad and unfair
The forever doomed
The dead of mind and body
Laugh at us
What was this all about anyway?
Didn't we spend our lives in hell?
The broken pieces come together
The Endless wisdom becomes useless
The timeless pleasure to say
I told you so...
But when?
'Till then what?
Is this life good enough
To reject the immortal other?
We will never know
Untill it's too late to believe
But believing can be hell
When you wait...

Aos 17 anos ninguém acreditou que tinha sido eu a escrever este poema.
Considero até hoje um elogio...

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