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terça-feira, dezembro 27, 2005

Entoação 

Retomando a tónica sobre que já "escrevi", o bem e o mal são culturais (não pretendo introduzir isto como uma novidade em estreia mundial, estou certo que não sou o primeiro a dizê-lo) o que torna então difícil de decidir sobre a reacção a qualquer um, especialmente sobre o mal, que pede com maior urgência retribuição.
Considerando que dentro do foro cultural estão as pessoas que o constituem, e que dentro de cada uma está a interpretação da sociedade para a qual nasceram, o bem e o mal cultural está, também aqui, incerto. Temos então noções individuais, limitadas pelos lados, com margem de manobra, por limites que embora impostos, tomam a forma de guias negociados de conduta. São estes os limites culturais, determinados por costumes e modas sazonais convencionais. Se temos os "rectos" temos os "divergentes". Parecem haver espectros muito diferentes dentro de uma mesma cultura, por isso, como nos poderemos nós entender?
Entoação.
Uma ferramenta transcultural que dificilmente se imaginaria ter de utilizar dentro de uma mesma comunidade, mas evidente, se pensarmos que toda a gente é realmente uma ilha. Uma ferramenta que transcende mesmo as espécies. Chamarei o que quiser ao meu cão e não lhe fará diferença, pois as minhas palavras por si não lhe dizem nada, tanto lhe posso estar a elogiar o pentado como lhe ameaçar cortar os testiculos para deixar de correr atrás das cadelas. Nas pessoas, como nos restantes animais, a entoação dada a qualquer frase determina a qualidade da resposta, por mecanismos tão simples como o susto, o medo que sentimos num súbito levantar de voz, o aumento da pressão sanguínea, o aguçar do estado de alerta para discernir a perigosidade daquela alteração ambiental. Não se limitam as aplicações a amigas que se chamam putas umas às outras numa entoação familiar ou rapazes que se chamam paneleiros uns aos outros, isto poderá até ser interpretado a partir de simples convenções entre os partidos e a circunstância da interacção, que, pese embora a sua importância, não é tão puro como a simples entoação na determinação da reacção dentro de grupos e pessoas culturalmente singulares.
Isto exclui os "atados" que habitam em paredes culturais extremamente fechadas porque é de seu interesse que todas as camadas se mantenham, por medo de mudança. A esses, o significado de toda a entoação divide-se em bom, mau e bom-que-provavelmente-é-mau.
É curioso verificar a entoação das frases que nos são dirigidas e consequentemente ver até que ponto é que não temos consciência da sua importância, quanto mais não seja para ver até que ponto somos primitivos. É sempre bom ter isto em mente.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Feliz Natal 2005 

Não é a mesma coisa...
O natal morreu para mim.
Nunca tive o tipo de natal descrito em livros de putos com montes de gente, mas tive a gente que me pareceu suficiente para criar o ambiente que nunca me há-de passar de memória. Ainda hoje tenho a depressão pós-natal de quem tudo construiu e procura, completamente perdido, os embrulhos sobre que tanto fantasiou. A fantasia é expectante e perfeita, porque raio tivemos nós de os abrir?.. Mas é sentimento que tenho cada vez menos. A ansiedade foi-se. Vive-se de injecções e balões de ar. Sugo a emoção das crianças à minha volta e a emoção que me cabe agora criar à volta das caixas e papéis e plásticos. Sugo-lhes o natal, sem vergonha, como um verdadeiro viciado. Tirem-me isso e nada tenho na quadra, não... pior... tira muito de mim. Vai-me comer as ilusões que tive em criança. Destroi-mas. Coloca-mas em causa. Terá sido assim tão bom, tão mau, tão real quanto isso? Se nada sinto, terá havido algo a sentir de todo? Lembranças e empolgamento inútil de criança.
O embrulho vai para o lixo, as prendas acabam a um canto e as memórias?
Tinha gente suficiente de minha volta, uns não posso trazer de volta, outros não quero (ou quero?) e outros afastaram-se... Não quero saber se a vida é ou não disto. Porra para a vida! Eu sei que nada será igual, mas vamos fingir! Há maneiras de viver o natal, há maneiras de voltar a ser criança, a viver como uma criança, pelos olhos parciais de quem anseia ilusão e surpresa.
As prendas são isco para todos atrair. Chamar quem estimo à minha beira, oferecer-lhes comida, bebida, um tecto e prendas, porque não? Sentem-se para aí e vivam isto comigo fazem favor. Não quero é ficar sem natal. Não.. não me importo de partilhar.



O natal morreu para mim.
Espero como uma criança por crianças que o ressuscitem.

P.S. - Mor, despaxa lá isso ;)

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Lá vão 2001 

Stanley Tookie Williams foi executado pelo governador republicano Scharzenegger recentemente depois de negados pedidos de clemência em virtude do arrependimento que incidiu sobre tudo menos os crimes de que era acusado. Escrevia livros para crianças, avisando-as dos maleficios da vida em gangs, e assim tornou-se um icone negro, digno de filme e culto. Alguém que errou e se arrependeu.. de tudo menos os crimes de que era acusado. Nunca os assumiu, embora o tribunal o tenha condenado à morte há dezenas de anos, e ainda mais importante, embora sabendo que fazendo exactamente isso, teria mais chances de conseguir um perdão governamental. Independentemente de ter sido ou não sincero quanto às suas acusações, num estado que endorsa a pena de morte, acredito que, à imagem de várias outras ocasiões, o sistema americano nunca voltaria atrás na sua decisão. Compreendo que a família das suas supostas vítimas quisessem o culpado das suas mortes punido, mas tornou-se muito mais que punir apenas um homem, quando esse passou a inspirar jovens. Trata-se de negar um exemplo. Acredito que esses familiares deviam passar uma temporada na prisão. Pois claramente não a julgam punição suficiente para algo que não pode ser retraído. Se o tivessem apanhado imediatamente após o acto, acredito que tinham o direito de o matar também. Mas depois de tanto tempo e de ver o que estava em jogo, ver o que foi feito deste homem, acho-as tão culpadas de homicidio quanto ele, e menos retributivas à sociedade que envergonharam. Uma vida atrás das grades não é vida para ninguém.


Stanley Tookie Williams


Uma pena de morte é justificável no calor do momento porque a razão se esfuma 2 vezes seguidas, no acto e na retribuição. 20 anos depois do facto é assassinato a sangue frio. Aceite. Colunável. C... c... cultural.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Propaganda (desculpem lá, mas devia ser directo e não é) 

Por muito que não se queira prestar atenção, os outdoors voltam a por em perigo os condutores de norte a sul com as frases-tipo e algumas cara de clister.
Exemplo mais notório o cartaz do Mário Soares em que diz (com cara de quem está com uma perna para lá) que esteve com os portugueses nos momentos mais dificeis. E porque terão sido os tempos que ele esteve connosco tão dificeis? Perdoe-se o gracejo fácil, mas esta enterrou-se sozinha.
Cartaz do Cavaco Silva vem de um optimista instantâneo que ainda há tempos pedia ao pessoal do PSD para não lhe tocarem, não usarem o seu nome, não tão pouco chegarem perto e agora está cheio de fé que isto dá a volta. Complexo de Messias assim para o torto. Se não queria ser associado ao PSD era porque o anterior governo PSD fez maravilhas nos seus 2 grandes takes como gente que pensava que sabia, mas afinal esquece que era impressão. Agora que a economia conseguiu finalmente parar o barril de petróleo enquanto este subia e parece que isto se possa endireitar um pouco, surge o arrumador de carros para receber a moedinha. Mas como já ouvi dizer "eu sempre votei Cavaco..." pois é... e mudar agora para quê? Heis uma razão.. já repararam no olho perguiçoso do homem nos cartazes? É aquele gajo que querem ver na mensagem de natal aos portugueses?
Belmiro de Azevedo fica desde já apelidado de Rezingão. O anão (nas sondagens) que não gosta, critica, estrabucha e se arrelia com o estado de todas as coisas, mas só porque sabe que ninguém lhe liga de qualquer maneira, por isso não faz mal. Come o biscoitinho e vai para a cama cedo no dia de eleições.
Francisco Louçã tem pinta de Geek, mas está chatiado com o mundo e com os portugueses, e não admira, com uma mulher como aquela deputada ao lado dele com um buraquinho (perdoa-me Jesus, eu sei que prometi não voltar a isto...) tão fechado de tão arreliada está com o estado das coisas, também eu veria tudo a vermelho e para a esquerda... que é para onde está a porta da rua.
E resta um Poeta por onde escolher...

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