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domingo, agosto 29, 2004

Caminhos 

A necessidade de integração num grupo é o mote para que algumas espécies de animais, 10 minutos depois de nascerem, se queiram levantar sob pena da morte que os alcançaria caso ficassem para trás.
Esta integração nasce no seio da família, prmeira acolhedora do ser humano no mundo, a primeira impressão da hostilidade e amor que o ambiente proporciona. À medida do tempo, as relações vão evoluindo, e a necessidade de pertença vira para outro grupo com o qual se identifique e respeite. Mas para ser aceite, é preciso que também ele seja respeitado como um igual, e dele se pede um conjunto de provas que mudam o indivíduo, que o moldam à imagem do grupo que pretende adoptar. A importância é tal, que a mudança pode ser de tal ordem, que a anterior identidade seja quase supressa para que a nova surja, e quem conhecia, agora o estranhará, o colocará em causa, o afastará do seu próprio grupo graças à sua diferença, e mais o aproximará do novo circulo.
Quanto aos que ficam sózinhos, um novo grupo formarão, consistindo de si próprio, do seu mundo e suas regras, para que, longe de todos os outros, a sua ordem presida sobre o resto. O resto que o renegou, por ele é rebaixado, para que a dor da não pertença contrabalance com a raiva de não querer pertencer.
A febril necessidade de nos rever aos olhos de outros que respeitamos cataliza em nós a mudança e a evolução, numa altura em que não sabemos quem somos ou sequer o que queremos ser, é possível caír em lugares-comuns para os quais não teriamos inclinação, mas que as circunstâncias trataram de ditar.

quarta-feira, agosto 25, 2004

8º Pecado - A Culpa 

Ainda antes de surgirem as regras que levavam à punição, já o controlo das acções se executava através do incutir do sentimento de culpa nas pessoas, para que fossem elas a punir-se, ainda antes da concretização do acto, evitando-o muitas vezes.
Este sistema vem a evoluir desde então, desviando-se do seu intento original e passando a servir mais como um instrumento de contenção, direcção e controlo das massas. Escusando-se no entanto de responsabilidades encriminatórias, uma vez que é dada ao sujeito uma escolha entre várias situações, ainda que nenhuma delas o favoreça por completo. Desta maneira, graças à ilusão da escolha deliberada, o instrutor controla e o pobre diabo serve. Entre as más escolhas, escolher a menos terrível não é uma decisão tranquila. O sentimento de culpa pela escolha a que foi obrigado, combinado ou não com outros factores induz a um estado de depressão causado pela sensação de impotência, que mais tarde fará esta pessoa mais fácil de manipular.
Culpa... Manipulação...
A culpa pode vir do próprio, mas de onde veio a culpa para dentro de nós senão pela sociedade que nos educou? Nunca se viu um animal com sentimentos de culpa. Curioso como os donos chegam a casa e esfregam o nariz do animal em urina, quando é perfeitamente claro que os cães não fazem ideia porque raio estão a ser punidos. Pretende-se impôr o sentimento de culpa aos animais, veja-se só se não somos inteligentes e racionais...!
Há uma diferença entre culpa e receio das consequências, em culpa punimo-nos nós, as consequências cobram-nas os outros.


sexta-feira, agosto 20, 2004

Por Tudo o que Mudou 

As revelações dos episódios que se passaram e que não se passaram com as crianças da Casa Pia, tiveram consequências para além do caso e para além dos acusados e dos ofendidos. Desde que pedofilia deixou de significar amor pelas crianças e passou a luxúria por crianças, que as atitudes de qualquer pessoa que se aproxime de uma criança são subtilmente observadas e catalogadas de próprias ou abusivas. Se um homem dos seus 50 anos sorri para uma criança, é motivo de desconfiança, se dá a palmadinha que todos levam quando são crianças, então cruzes, chamem alguém para os separar.
Não há dúvida que os casos não podiam continuar obscurecidos, não é para aí que dirijo a minha crítica, é para a facilidade da generalização de um caso à vida do dia-a-dia por força do medo e do instinto protector das crianças que toda a gente exibe.
O caso do Michael Jackson é claro quanto a isto. Desconfiados que somos dos caprichos dos podres de ricos e de alguém que trai a sua raça fazendo-se branco, quando surge a alegação de que poderá ter abusado de crianças, a resposta é "claro, tinha de ser"! Como se esperassemos que as pessoas de quem desconfiamos fossem de facto culpadas de algo horrível. Sem provas os acusamos. Sem questionar os motivos da denúncia. Sem questionar a sua veracidade. Queremos apenas que afastem quem quer que seja acusado. Queremos que o medo tenha uma cara. Queremos que tudo acabe... e ao mesmo tempo não é nada disso que queremos. Queremos um alvo. Uma direcção para o nosso receio e a nossa frustração perante um acto que não pudemos evitar.
Há inocência no mundo. Os pedófilos tiraram parte da das crianças. Deixemo-nos com a nossa.

segunda-feira, agosto 16, 2004

A Jovem Inércia 

Desde as revoluções liberais que o sistema capitalista vem encontrando soluções para o estilo de vida ocidental e se vai intrometendo nas políticas dos países sul americanos, africanos e asiáticos, não por substituir o sistema comunista ou dictatorial, mas por influir sobre o estilo de vida dessas sociedades de tal maneira, que o consumo em massa e o comércio se colocam àparte do rumo político.
Um reconhecido inimigo da humanidade como se diz ser o capitalismo não poderia subsistir não fosse a esperança dos dominados de algum dia, também eles dominarem, possuirem, viverem a vida daqueles que os exploram, explorando eles a partir daí. O desprezo pela vida do outro não parece tão abominável quando vista de grande altitude.
Em tempos os regimes que jogavam contra o povo eram derrubados em revoltas sangrentas, e depois do pó assentar surgia uma alternativa, uma nova via assente em ideiais puros e humanistas, que gradualmente, também ela, caíria no cliché de ser derrubada por gerações seguintes.
Pergunto-me se, com a introdução de um elemento tão fortemente protector como a esperança na troca de papéis, a revolução contra o sistema capitalista possa realmente ocorrer.
Os jovens, tipicamente sedentos de mudança, com os olhos mais atentos às injustiças, são envenenados com Zaras, Bershkas, programas como "Morangos com Açucar", vidas nocturnas, ideais e ídolos mortos, aparências e grupos uni-cerebrais. Onde está a vontade de mudar?
As críticas estão lá e são muitas, mas o mais que garantem é que a revolução está próxima.
Parece-me a coisa mais ridícula este jogo do "é para amanhã". Estaremos confortáveis criticando? Será isso suficiente para nós?
Irritamo-nos tanto quando os julgamos a rir de nós, sentados nas suas cadeiras de centenas de contos, mas porque não hão-de eles rir? Comandam massas cegas que recusam levantar a venda. Os jovens, os explosivos, estão adormecidos num manto de futilidades.
Não valerá a pena tentar a mudança, ainda que sem certezas de sermos bem sucedidos?
Tentar... fazer... algo.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Medo do Medo 

O medo tem o seu quê de confortável.
É a indefinição que realmente nos apavora, o equilíbrio instável entre bons e maus momentos, que de um instante para o outro muda e tudo deixa "anormal". Quando o medo chega, reagimos sobre ele, estamos a postos para remediar a situação espantosa, para agir sobre ela, para a tornar familiar a um ponto que se torne resolúvel.
Já a expectativa do medo... é invisível. Impalpável. É furtiva, é animal que salta dos arbustos e o pessimismo em nós garante que traz com ele o fim. É o exagero desmedido que segue à risca as leis do sábio Murphy! De facto, o medo do medo é de tal maneira constante que a certo ponto deixa de nos incomodar. É a apatia. Também conhecida pela certeza com que nos confortamos que tudo vai correr bem, e se não correr bem... logo se vê! O hesitar está lá, também ele disfarçado de calmaria, de ovelha plácida e optimista. De que outra maneira ousariamos nós sequer viver se estivessemos constantemente alerta para as probabilidades? Conscientes das possibilidades mais negras, senão mentindo a nós próprios? Nunca completamente, é certo. Estamos cientes dos perigos mais evidentes e alguns até os pressentem. Mas senhores que queremos ser de nós próprios, esta pequena traição surge com indignação.
Solução para isto? Porquê uma solução? Viver em medo é uma patologia psicológica.

terça-feira, agosto 10, 2004

Partidos os Espelhos 

O homem formou natureza própria quando tomou consciência da sua singularidade e partiu para a conquista do mundo que reclamou seu. Foi-se a natureza animal que o fizera matar para comer e sobreviver num território. Tornou-se arbitrária e radicalizada, passando a matar para além do que conseguia comer e a matar outros homens para conquistar respeito, em vez de território de caça, se bem que a luta pelo harém tenha continuado uma meta, uma meta não proclamada.
A consciência de si, no entanto, tornou-se na consciência de um ser com múltiplas falhas e facilmente abatido. O medo fê-lo paranoide. Assim se mataram os predadores e se gritaram os mais altos elogios ao poderoso feito do que afinal eram minúsculos humanos em pânico assassínio.
Aqui a natureza do homem e do animal separaram-se.
O poderio sobre a natureza exerce-se cada vez mais e com mais força, da mesma maneira que alguns homens compram grandes carros e casas para compensar a sua pila diminuta. Para esconder aquilo que mais o aborrecia e mais o desmascarava perante o mundo, a sua impotência para tudo dominar. Como um macaco com um revólver carregado, viramo-nos sobre tudo o que existia, e porquê? Porque podiamos. Não pensando no divino que seria ter o poder e não sucumbir perante ele. Discretos? Nunca. Há muito para provar.
A tendência separatista, paranoide não é algo que possa ser facilmente travada. E assim... depois de nos separarmos dos animais, dos símios, separamos continentes, raças, nações, regiões, cidades, vizinhos... até que nos tornamos prisioneiros na nossa própria mente. Desconfiados. Solitários. Cautelosos. Auto-destrutistas. Drogas legais. Internet. Pornografia. Masturbação. Convencemo-nos a nós próprios que é isto que queremos, que estamos seguros, enquanto nos lamentamos da vida que levamos, do país que temos, mas sem coragem ainda para assumir quem somos e de onde viemos e mais... distinguir o que importa do que é superficial.
Somos macacos com fogo na mão... e já nos queima a tocha que carregamos pelo mundo.

sábado, agosto 07, 2004

Asneiradas 

É sabido que elevamos a nossa voz para alguém que está a poucos metros de nós quando sentimos que não estamos a ser ouvidos, que a ideia que queremos fazer passar não está a chegar.É uma maneira de forçar o nosso ponto de vista sobre a outra pessoa, conscientes que estamos da nossa razão nessa instância e que com um pouco de insistência e exuberância, o nosso ponto seja aceite.Uma boca asneirenta pretende, que auxiliado pela alta voz quer subtilmente incorporado no discurso usual, atingir esse mesmo objectivo: o de se ser ouvido. É possível argumentar até à sonolência do receptor, de maneira que o emprego de palavras chocantes e proibidas, depois de suscitar o espanto, suscita a atenção, e de repente a conversa ganha novo interesse, sempre cautelosa da próxima profanidade.De tal maneira nos queremos fazer ouvidos na locução com o próximo que o emprego do calão está cada vez mais presente no vocabulário usual, e vai perdendo o elemento da surpresa em ambientes em que a profanidade seja prática corrente, e acontece aquilo que normalmente se verifica no choque de culturas: a absorção. O calão deixa de ser chocante, e no seu emprego, não se antecipa espanto. E que se faz quando a dose normal deixa de produzir o efeito desejado? Aumenta-se a frequência.A falta de vocabulário é também um factor influente na utilização do calão, substituindo um artigo cujo nome nos escapa pela designação "aquela merda", por exemplo.O nervosismo, que bloqueia a criatividade e o raciocínio também levam ao uso frequente de asneiras.O desprezo por tais palavras é compreensível. Inteligente será quem escolhe não fazer uso delas. Mas será que a expressão poética de raiva e desespero é tão rápida quanto uma asneira berrada na altura?Inteligente será também quem não necessita de levantar a voz para argumentar o seu caso.Assim visto, gritar e dizer asneiras serão o mesmo apelo à atenção e um sinal de necessidade de expressão, que o nervosismo desencadeado pelo contacto com o receptor provoca. (Passo a redundância)Poderemos realmente pedir calma a uma pessoa, para que as asneiras que a maioria de nós usa (numa ou outra altura), não seja usada perante nós?

quinta-feira, agosto 05, 2004

A Guerra Moderna tem Disto... 

Já postei sobre isto... mas continua gritante.
A soldado Lynndie England poderá enfrentar uma pena de 38 anos de prisão pelo crime de abuso de prisioneiros na prisão Abu Ghraib. Ou seja... 38 anos a mais que o comum soldado que confunde uma câmara de televisão com um lança rockets. Os advogados da soldado argumentam que ela apenas seguia ordens superiores para despir os prisioneiros e os amontoar em cima dos outros, colocá-los em posições de moral dúbia enquanto não chegava uma nova televisão que os divertisse.
Mas isto não é o mais estranho.
Mais estranho é que, com autorização para cometer um acto tão abominável como o assassinio e a ocupação de uma nação inteira, despir os homens esteja fora de limites. E tirar fotos! Porque não? Não é por não tirarem fotos que aquilo deixa de ter acontecido, deixa é de se saber, como o era até que caiu no colo de algum repórter. Ao invés de nos aliviar por a verdade vir à superfície, faz-nos pensar sobre que mais nos escondem, que mais resta para descobrir.
Novamente somos todos nós a dar legitimidade à invasão, mas a torcer o nariz da moral quando se tiram fotografias PORNO-ERÓTICAS com os prisioneiros. Mortes sim. Amoralidades é que não.
E por isto e um sorriso é que a libertina da soldado arrisca 38 anos na cadeia... gritante.

terça-feira, agosto 03, 2004

Será que... 

A bíblia é, ao que parece, um livro onde faltam capítulos, e os capítulos que tem foram traduzidos.
Pode muito bem ser que a religião cristã se reescrevesse ou desaparecesse caso as peças fossem recuperadas e integradas, mas ao que parece não há "risco" de isso vir a acontecer. Obrigadinho Vaticano.
Já que nos fizeram o favor de interpretar o mundo religioso por nós, também eu darei a minha tacada.
Vivemos no inferno! O nosso mundo é feito de escolhas, sejam feitas por nós ou POR nós. Com as consequências de tais escolhas lidamos todos. Com os erros de 6 biliões de pessoas, uns cuja onda morre perto de quem a levantou, outras varrem-nos a todos de uma ou outra maneira. E os bons momentos só funcionam como intervalos para recuperarmos a sensibilidade à dor. Há imensa beleza no nosso planeta, nos seus animais, paisagens e mesmo nas pessoas... o que faz com que a queda seja ainda mais dolorosa e cruel. Imaginar-se o que é viver em medo, sem saber se é a vez da dor... ou a vez do magnífico anestesiante. É ainda assim... o que faz valer a pena viver.
Se o inferno é a indefinição e a dor à espreita, o paraíso será o seu oposto. Ora oposto à indefinição, será a certeza... a morte. Onde nada é cruel, sem dor, sem saudade.
Vistas estas duas existências... quem poderá ainda aspirar ao paraíso? Se o jogo extenuante e "diabólico" é onde lutamos para subsistir? O paraíso cristão não parece senão uma aplicação a este meu inferno, ao qual se dá o nome "utopia". Não àparte. Não existente. Mas uma esperança... uma moeda para continuar o jogo.
Sem certezas... só restam possibilidades.

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