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sábado, agosto 07, 2004

Asneiradas 

É sabido que elevamos a nossa voz para alguém que está a poucos metros de nós quando sentimos que não estamos a ser ouvidos, que a ideia que queremos fazer passar não está a chegar.É uma maneira de forçar o nosso ponto de vista sobre a outra pessoa, conscientes que estamos da nossa razão nessa instância e que com um pouco de insistência e exuberância, o nosso ponto seja aceite.Uma boca asneirenta pretende, que auxiliado pela alta voz quer subtilmente incorporado no discurso usual, atingir esse mesmo objectivo: o de se ser ouvido. É possível argumentar até à sonolência do receptor, de maneira que o emprego de palavras chocantes e proibidas, depois de suscitar o espanto, suscita a atenção, e de repente a conversa ganha novo interesse, sempre cautelosa da próxima profanidade.De tal maneira nos queremos fazer ouvidos na locução com o próximo que o emprego do calão está cada vez mais presente no vocabulário usual, e vai perdendo o elemento da surpresa em ambientes em que a profanidade seja prática corrente, e acontece aquilo que normalmente se verifica no choque de culturas: a absorção. O calão deixa de ser chocante, e no seu emprego, não se antecipa espanto. E que se faz quando a dose normal deixa de produzir o efeito desejado? Aumenta-se a frequência.A falta de vocabulário é também um factor influente na utilização do calão, substituindo um artigo cujo nome nos escapa pela designação "aquela merda", por exemplo.O nervosismo, que bloqueia a criatividade e o raciocínio também levam ao uso frequente de asneiras.O desprezo por tais palavras é compreensível. Inteligente será quem escolhe não fazer uso delas. Mas será que a expressão poética de raiva e desespero é tão rápida quanto uma asneira berrada na altura?Inteligente será também quem não necessita de levantar a voz para argumentar o seu caso.Assim visto, gritar e dizer asneiras serão o mesmo apelo à atenção e um sinal de necessidade de expressão, que o nervosismo desencadeado pelo contacto com o receptor provoca. (Passo a redundância)Poderemos realmente pedir calma a uma pessoa, para que as asneiras que a maioria de nós usa (numa ou outra altura), não seja usada perante nós?

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