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sexta-feira, novembro 19, 2004

Realidade e Certezas? 

Se a percepção do mundo é fruto das interpretações da mente sobre os estímulos, que nos garante a nós que tudo o que se passou antes de começarmos a contar o tempo, se passou realmente? Não temos senão relatos de outras entidades às quais não estamos ligados espiritualmente, para nos garantirem que tudo se passou, que tempo houve, que havia mundo antes de nós. Pensar nisto é uma manifestação de um ego inflamado, é certo, mas sinceramente, não há como ter a certeza absoluta de nada. Todo o passado é uma estória, história pode não ter existido. Como saber se as pessoas que a relatam nasceram de verdade? Como saber se as que nasceram há um mês nasceram de facto e não surgiram do nada, como imaginação fugidia?
Certezas há. Mas só após as apreendermos. Até lá tudo é incerto. Tudo carece de existência. Tanto que uma falsa verdade elaborada por nós, até concordarmos com o seu desmentido, coloca todas as outras ideias de lado, todas as verdades em cheque. E no entanto, por um instante ou uma vida, foi tudo o que era certo, sem ter lógica.
A realidade é, a partir deste ponto, subjectiva. Porque todas as descobertas, todas as construções do real partem de cada qual, e cada qual possui a sua. A realidade não é, então real. Porque para o ser, teria de ser universal. Para ser universal todos teriamos de partilhar uma vida do princípio ao fim.
É possível conciliar tudo através de convenções, e até formar pressupostos que possam ser transmitidos a todos, culturalizar conhecimento desde tenra idade, antes que tomem consciência de que é possível apreender acontecimentos de maneira diferente e construir uma realidade que seja diferente da norma, necessáriamente seria errada. Pois temos de viver em grupo e temos de pensar de igual e a realidade tem de ser só uma, senão só resta concordar que cada um de nós é um indivíduo. E um indivíduo por si só é solitário.
Mas a humanidade é um. E um é a humanidade também.
Antes não pensar que ficar só.
Os doentes mentais constroem-na para além do domínio social, porque não são influenciados por ela graças a incapacidades de percepção de estímulos sociais. A esta liberdade chamamos loucura. Certo é que a fisiologia impede um correcto desenvolvimento, mas loucura? Incapacidade? Não seguir a manada? Errado?

Pensar doi realmente.

E certezas de que vejo o que vejo? Que sinto o que sinto? Que tudo existe para além dos sentidos?

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