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quinta-feira, outubro 13, 2005

Ditadores de Fraldas 

Observo com atenção as actividades da minha sobrinha junto de crianças com uma idade relativamente semelhante à sua. Ela tem uma base familiar muito próxima a ela que a bombardeia de atenção, incentivo e desafio, o que faz dela uma criança de ano e meio muito mimada, mas como me dirá muita gente "ainda bem", estará na idade para mimos.
Mas se assim fosse, não haveriam pessoas mimadas na vida adulta, ou com comportamentos de quem foi muito mimado e espera um determinado tipo de reacção das pessoas com que se cruza, não especificamente dos seus pares, mas de estranhos a quem exige ainda um determinado grau de atenção, que na vida adulta poderiamos chamar de respeito. Poderiamos até ir mais longe a chamar-lhe disposição à submissão ocasional.
Mimada que é, quando a Catarina bate a uma criança não espera uma retribuição, pois afinal os seus tantras são recebidos com explicações e argumentos em tom macio e familiar. Quando chega um castigo nos mesmos moldes maléficos que empregou à ofensa, mostra-se surpresa e subitamente desamparada, pois o gigante submisso que tolera e medeia o certo e o errado ergueu-se contra ela ao invés de ser um aliado submisso que observa e desaprova de uma maneira que não lhe limita uma recorrência.
Sim, submisso.
É importante para uma criança sentir que aqueles que lhe são próximos lhe sejam também dependentes. Do quê ao certo acredito que não saiba, mas tão pouco se questionará, certa que é. Estar à mercê de gigantes super-poderosos (adultos) não agrada a toda a criança, pelo que procura sinais de fraqueza, como a distribuição de afectos, que lhes indicará dependência e um recurso a explorar para amenizar os medos que sentiria por tais criaturas. Tu és grande, mas se eu chorar ou sorrir de uma determinada maneira é certo que te dobras perante mim e de ti saberei o que fazer.
Não é fácil pensar nas criancinhas coitadinhas a manipular adultos desta maneira, e seguramente que nem todas as crianças funcionam desta maneira, mas por condicionantes ambientais ou biológicas, nunca verei uma criança com uma boa base familiar a deixar de fugir para o meio da estrada ou a empoleirar-se de um sofá para receber uma injecção de garantia dos seus prestadores de cuidados.
Chegando à idade adulta a tentativa de manipulação assume outras formas, mais elaboradas, como a chantagem "tu não gostas é de mim" "já não gosto de ti" "quando é para mim tu nunca..." e outras que concerteza quem lê se lembrará.
Manipulação pura.
Mas mesmo sabendo isto... quando a Catarina faz os olhinhos.... :))))

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