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sábado, agosto 23, 2008

Crise de Facto 

Michael Phelps tornou-se primeira página ao visitar Vilamoura.
Que sentimento de orgulho é este que faz com que o português médio fique sexualmente excitado quando aparecem estrangeiros por cá para nos ver? Parece que a alegria exibida nos mete assim num patamar macacal ou extremamente deprimido que nos obriga a procurar nos olhos dos estrangeiros, supostamente superiores a nós, aprovação para o estilo de vida que escolhemos para o nosso país. Como que uma legitimização.
Oh Deuses de outros países, bem melhores que o nosso, digam-nos por Amor de Deus que gostam do nosso espacinho. O orgulho nacional tão depende disto.

Tão severa é a reacção a uma falta de aprovação, que nos armamos de xenofobia para lidar com aqueles que não nos dão a lisonja que procuramos. Voltem para o vosso país!
Não estou certo que o mesmo se passe noutros países mais desenvolvidos, mas sei que é uma questão de sobremaneira cultural. Ou seja, não interessa propriamente se temos algo para oferecer ao estrangeiro, interessa que estejamos munidos de mecanismos de lidar com opiniões tão diversas como "olhos-do-cu" houverem.

A capacidade de lidar com crítica, ou incapacidade no nosso caso, a procura contínua por aprovação do outro, parece-me uma prova de falta de maturidade e de auto-confiança que denotam um país em crise identitária e de auto-confiança.
É um fenómeno psicológico extraordinário. Um trauma colectivo, persistente no tempo. Uma personalidade que se começou a formar nos descobrimentos, altura em que nos constituimos como algo megalomanos, mas que, de repente... caiu e, descompensando, caiu na depressão e na confusão. Quem somos afinal, este Portugal?

Qualquer outro povo, percebido como mais desenvolvido, é convidado a responder. Convidado é mesmo a palavra correcta, porque há inclusive a ansiedade que prova precisamente essa pergunta, essa necessidade de perguntar ao estrangeiro se está a gostar do país e do que é que gosta mais. Uma paixão platónica. Oh tu, supperior a mim... diz-me, pelo teu Amor, quanto valho eu.

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