domingo, outubro 24, 2004
Arrastados
Os pais fazem as coisas mais bárbaras aos seus filhos sem dar conta do impacto que algumas atitudes têm em nós, e nunca mais dedicam um momento de pensamento a uma acção que julgaram, na altura, relativamente inócua. Mas a verdade é que não esquecemos. E que marca. E que fere. E que provávelmente a repetiremos um dia mais tarde.
Parece ridículo que tendo nós passado por pequenos nadas que nunca morreram dentro de nós, não fossemos mais sensíveis na altura de criar os nossos novos nós. Não o sabemos explicar senão por uma genética atrapalhada que explica que sendo os nossos pais ocasionalmente idiotas, também nós cairiamos no mesmo buraco, sem culpa nossa, que é o mesmo que dizer, sem consciência de que está a acontecer. Sem consciência disso, excusamo-los à luz dos nossos pecados e expiamo-los, mas não deviamos, pois os actos cometidos sobre nós, farão ricochete para os próximos, porque o homem quando fere em criança, nunca cura e nunca esquece.
Uma criança ao ser abusada por um pai ou uma presença autoritária sente raiva de si por ser tão inofensivo e por não conseguir expelir todas as palavras que lembra mais tarde como apropriadas para ferir algo em retorno. Esta raiva amadurece em frustração. Frustração por não conseguir controlar o seu meio. E um dia mais tarde, inundado de preocupações com os seus próprios filhos, tentando desesperadamente controlar o seu rumo, vendo-se incapaz de o conseguir... frustra-se e rebusca o passado insuportável em que não controlava e impõe-se finalmente ao seu pai... na figura do seu filho.
É cobarde... mas compreenda-se que é a medo, vem do medo e conduzirá (ou não) a mais medo, que nascerá num filho que vê um pai a desabafar um problema que cai de geração em geração. Não necessáriamente, pode ser parado com a ajuda de um contrapeso, um membro da família, ou o/a conjugue, que re-equilibre o limiar de frustração.
Tornamo-nos aquilo que abominamos, não em raiva, mas em reacção a raiva. Deslocando a frustração de si para o protegido. Em mais maneiras que uma.
Parece ridículo que tendo nós passado por pequenos nadas que nunca morreram dentro de nós, não fossemos mais sensíveis na altura de criar os nossos novos nós. Não o sabemos explicar senão por uma genética atrapalhada que explica que sendo os nossos pais ocasionalmente idiotas, também nós cairiamos no mesmo buraco, sem culpa nossa, que é o mesmo que dizer, sem consciência de que está a acontecer. Sem consciência disso, excusamo-los à luz dos nossos pecados e expiamo-los, mas não deviamos, pois os actos cometidos sobre nós, farão ricochete para os próximos, porque o homem quando fere em criança, nunca cura e nunca esquece.
Uma criança ao ser abusada por um pai ou uma presença autoritária sente raiva de si por ser tão inofensivo e por não conseguir expelir todas as palavras que lembra mais tarde como apropriadas para ferir algo em retorno. Esta raiva amadurece em frustração. Frustração por não conseguir controlar o seu meio. E um dia mais tarde, inundado de preocupações com os seus próprios filhos, tentando desesperadamente controlar o seu rumo, vendo-se incapaz de o conseguir... frustra-se e rebusca o passado insuportável em que não controlava e impõe-se finalmente ao seu pai... na figura do seu filho.
É cobarde... mas compreenda-se que é a medo, vem do medo e conduzirá (ou não) a mais medo, que nascerá num filho que vê um pai a desabafar um problema que cai de geração em geração. Não necessáriamente, pode ser parado com a ajuda de um contrapeso, um membro da família, ou o/a conjugue, que re-equilibre o limiar de frustração.
Tornamo-nos aquilo que abominamos, não em raiva, mas em reacção a raiva. Deslocando a frustração de si para o protegido. Em mais maneiras que uma.
domingo, outubro 17, 2004
Aquilo que Escapa
A atracção feminina pelos homens que as tratam mal, vai para além do conformismo de quem julga que não consegue encontrar alguém que a trate com mais dignidade. Mais complicado que o erro de pensar que a atenção dispensada numa discussão é uma indicação de amor por parte de alguém que não consegue exprimir uma emoção positiva.
Esta absessão auto-destrutiva prende-se também com a relação que a mulher teve com o homem que a educou, tenha sido seu pai ou whatever, que por sua vez lhe incutiu um tal sentimento de dependência ou repugnância, que ela se sinta obriga ora a converter um negro passado numa relação de sucesso, expurgando o seu pai, ou converter uma pessoa que nada tem a ver com o seu pai, numa outra pessoa. Reconverte-lo no homem que ela julga ser o máximo expoente da masculinidade. A fé na sua capacidade pessoal de mudar os podres desse homem, faz com que cada mau trato seja encarado apenas como um precalço, e não como um indicativo de incompatibilidade. E assim se vai debatendo e se vai afundando mais fundo.
Poder-se-ia confundir com um instinto maternal, este querer recuperar a virtude do homem, mas é sem dúvida um instinto de filha à procura de um pai que a proteja.
É uma situação que interessa ao homem, esta de dependência. Pois muito mais dificil se tornará o abandono, se a pessoa com quem estiver for dependente da sua presença, apesar dos erros que cometa, tal como esperaria de uma mãe que o amasse para além de todos os seus maus desvios. Uma mãe com a qual não tenha que controlar os seus ímpetos sexuais. Mas assim que estes são satisfeitos perde-se o respeito pela mulher, porque afinal de contas pretendia uma mãe, e uma mãe nunca, mas nunca cederia à luxúria do filho. Causa-lhe repugnância. Estimula-lhe o desdém. O mau trato torna-se justificado. E a dependencia da mulher continua. Dividida entre aquilo que ele julga querer, uma mulher, e aquilo que ele precisa para se endireitar, uma mãe. Ao mesmo tempo que balanceia o homem que a maltrata e o homem que se tornará o ícone do macho em relação.
A esperança substitui o amor.
Esta absessão auto-destrutiva prende-se também com a relação que a mulher teve com o homem que a educou, tenha sido seu pai ou whatever, que por sua vez lhe incutiu um tal sentimento de dependência ou repugnância, que ela se sinta obriga ora a converter um negro passado numa relação de sucesso, expurgando o seu pai, ou converter uma pessoa que nada tem a ver com o seu pai, numa outra pessoa. Reconverte-lo no homem que ela julga ser o máximo expoente da masculinidade. A fé na sua capacidade pessoal de mudar os podres desse homem, faz com que cada mau trato seja encarado apenas como um precalço, e não como um indicativo de incompatibilidade. E assim se vai debatendo e se vai afundando mais fundo.
Poder-se-ia confundir com um instinto maternal, este querer recuperar a virtude do homem, mas é sem dúvida um instinto de filha à procura de um pai que a proteja.
É uma situação que interessa ao homem, esta de dependência. Pois muito mais dificil se tornará o abandono, se a pessoa com quem estiver for dependente da sua presença, apesar dos erros que cometa, tal como esperaria de uma mãe que o amasse para além de todos os seus maus desvios. Uma mãe com a qual não tenha que controlar os seus ímpetos sexuais. Mas assim que estes são satisfeitos perde-se o respeito pela mulher, porque afinal de contas pretendia uma mãe, e uma mãe nunca, mas nunca cederia à luxúria do filho. Causa-lhe repugnância. Estimula-lhe o desdém. O mau trato torna-se justificado. E a dependencia da mulher continua. Dividida entre aquilo que ele julga querer, uma mulher, e aquilo que ele precisa para se endireitar, uma mãe. Ao mesmo tempo que balanceia o homem que a maltrata e o homem que se tornará o ícone do macho em relação.
A esperança substitui o amor.
quarta-feira, outubro 13, 2004
Post Mais Estúpido que Jamais Irei Postar
Encontrei há relativamente pouco tempo um uso para as frases feitas e lugares comuns que antes me irritavam tanto. É que para mim repetir constantemente os mesmos dizeres é prova de fraco espírito, cujo limite, posto ao teste em cada frase proferida, não parecia ultrapassar o "chato pa pénis". E nunca poderia pois claro, se já tinha tido o seu auge há considerável tempo, era impensável tentá-la de novo. As pessoas lembrar-se-iam! A revolta precipitar-se-ia! Mas não... e essa inércia atordoava-me e desanimava-me ao colocar o espírito evolucionista humano lá em baixo com os piriquitos que com a porta da gaiola aberta se põe a vasculhar a alpista. É giro e tudo... mas burros do pénis.
Até que tentei procurar uma razão para isto e encontrei-a simples. São dirigidas à geração que nunca a ouviu a primeira vez... é de esperar é claro que a moda que nos serviu a nós, lhes sirva a eles. Que a piada que nos fez rir, os interesse também. Mas para nós torna-se muita chato ter que experienciar as coisas duas vezes, e para apressar o surgir de novas e extraordinárias expressões, cuspimos no prato que comemos e chamamos chungas a todos os que se atrevam a persistir.
Também nós gostamos de modas ultrapassadas... também olharam para nós como quem olha para sub-espécies e disseram que não podiamos estar bem da cabeça para gostar de algumas coisas que gostamos. Mas quem foram eles para julgar? E quem somos nós agora?
As expressões são um tesouro da humanidade a caminho da cultura única. Por muito más que nos soem expressões como "DUH" ou "DAR Á MANIVELA", são um degrau para as que por lá vêm.
Nota do Editor: Agora digam-me se irrita mais dizer pénis ou caralho.
Até que tentei procurar uma razão para isto e encontrei-a simples. São dirigidas à geração que nunca a ouviu a primeira vez... é de esperar é claro que a moda que nos serviu a nós, lhes sirva a eles. Que a piada que nos fez rir, os interesse também. Mas para nós torna-se muita chato ter que experienciar as coisas duas vezes, e para apressar o surgir de novas e extraordinárias expressões, cuspimos no prato que comemos e chamamos chungas a todos os que se atrevam a persistir.
Também nós gostamos de modas ultrapassadas... também olharam para nós como quem olha para sub-espécies e disseram que não podiamos estar bem da cabeça para gostar de algumas coisas que gostamos. Mas quem foram eles para julgar? E quem somos nós agora?
As expressões são um tesouro da humanidade a caminho da cultura única. Por muito más que nos soem expressões como "DUH" ou "DAR Á MANIVELA", são um degrau para as que por lá vêm.
Nota do Editor: Agora digam-me se irrita mais dizer pénis ou caralho.
sábado, outubro 09, 2004
Praxis
Acabaram ontem as praxes do meu belo Instituto.
Em pesquisa para ver que tipo de partidas se pregavam aos vermes, encontrei uns sites dedicados ao movimento anti-praxe, que por entre citações de políticos e exemplos de praxes sem senso iam dizendo que o ensino superior não precisava de um ritual de iniciação tão traumatizante quanto este.
Finalmente percebi que aquilo a que se opunham não era necessáriamente a uma praxe, mas aos exageros que ocorriam durante estas e tive que me rir, já que se separava ali a praxe do exagero de maneira a exemplificar como a união dos dois poderia dar origem a situações de conflito. Ora... tudo quanto é em exagero é censurável. O amor em exagero por exemplo pode dar origem a perseguições e obsessões, porque é que não há sites a criticar isto?
Todas as novas situações são passíveis de praxe. Podem não ser tão óbvias quanto as universitárias. Um nascimento, visto no prisma paranoide de quem considera que todas as praxes devem cessar, pode parecer também ele uma praxe, pois aqui está um ser que chega a um mundo onde já habitavam os homem de bata branca, que de imediato o metem a chorar. Exagero é claro. Mas acho que se percebe a extensão da insanidade a que pode chegar o excesso de zelo.
As praxes pretendem ser rituais de iniciação. Os excessos estão errados. Mas estamos perante um preconceito que coloca toda a praxe em excesso desde a decisão da sua prática numa faculdade.
Os caloiros e caloiras da minha faculdade ADORARAM as praxes.
Se querem ser anti-algo, sejam-no contra excessos de qualquer ordem.
Em pesquisa para ver que tipo de partidas se pregavam aos vermes, encontrei uns sites dedicados ao movimento anti-praxe, que por entre citações de políticos e exemplos de praxes sem senso iam dizendo que o ensino superior não precisava de um ritual de iniciação tão traumatizante quanto este.
Finalmente percebi que aquilo a que se opunham não era necessáriamente a uma praxe, mas aos exageros que ocorriam durante estas e tive que me rir, já que se separava ali a praxe do exagero de maneira a exemplificar como a união dos dois poderia dar origem a situações de conflito. Ora... tudo quanto é em exagero é censurável. O amor em exagero por exemplo pode dar origem a perseguições e obsessões, porque é que não há sites a criticar isto?
Todas as novas situações são passíveis de praxe. Podem não ser tão óbvias quanto as universitárias. Um nascimento, visto no prisma paranoide de quem considera que todas as praxes devem cessar, pode parecer também ele uma praxe, pois aqui está um ser que chega a um mundo onde já habitavam os homem de bata branca, que de imediato o metem a chorar. Exagero é claro. Mas acho que se percebe a extensão da insanidade a que pode chegar o excesso de zelo.
As praxes pretendem ser rituais de iniciação. Os excessos estão errados. Mas estamos perante um preconceito que coloca toda a praxe em excesso desde a decisão da sua prática numa faculdade.
Os caloiros e caloiras da minha faculdade ADORARAM as praxes.
Se querem ser anti-algo, sejam-no contra excessos de qualquer ordem.
sexta-feira, outubro 01, 2004
Sobre-humanização do Simples Ser
.... e o mal de tudo isto é que as pessoas não dão conta que no mundo existem "n" pessoas que como elas pensam que ninguém as compreende e que nada pode ser por ela compreendido. É a falácia dos limites. Não há que lamentar.. as coisas são simplesmente assim. Não somos especiais, mas e depois? Não há tanta ou tão pouca beleza no mundo que nos possa satisfazer, mesmo sendo seres com um relógio incorporado em nós a contar os segundos para o fim espantoso? Num curto espaço de tempo toda a loucura faz sentido, até viver sob condições destas.
Toda uma série de meses terríveis, desastres e falhanços pessoais, mas não podemos deixar de admitir que por uns segundos ali pelo meio fomos felizes apesar de tudo e graças a tudo o que nos esqueceu naquele instante. Sofrer e colher.
Afogados em desespero, a atenção demasiado concentrada em evitar os obstáculos...
Só em momentos de inesperada lucidez damos conta que tudo é relativo. Nem a realidade é real na verdade, é apenas subjectiva. Há factos aos quais podemos escapar. Podemos moldar e obter qualquer suspiro. Nem que nos assegure uma mentira. E depois? Tudo é relativo. Somos deuses no nosso mundo particular.
Fora da cúpula do problema em mãos, o mundo gira como costume. Cima é cima, baixo lá em baixo...
Relativizar...
"It's all been done before" como dizia a pita Lavigne :)
Acima de tudo aceitar a similaridade a pessoas com as quais não temos relação nem necessáriamente pontos em comum. O que a nós nos fazem as circunstâncias fazem também a outros. Piores situações foram já resolvidas por humanos como nós.
Calma, raciocínio e um sorriso.
Sem nunca abandonar o real, mas conscientes dos limites e relatividade das coisas.
Toda uma série de meses terríveis, desastres e falhanços pessoais, mas não podemos deixar de admitir que por uns segundos ali pelo meio fomos felizes apesar de tudo e graças a tudo o que nos esqueceu naquele instante. Sofrer e colher.
Afogados em desespero, a atenção demasiado concentrada em evitar os obstáculos...
Só em momentos de inesperada lucidez damos conta que tudo é relativo. Nem a realidade é real na verdade, é apenas subjectiva. Há factos aos quais podemos escapar. Podemos moldar e obter qualquer suspiro. Nem que nos assegure uma mentira. E depois? Tudo é relativo. Somos deuses no nosso mundo particular.
Fora da cúpula do problema em mãos, o mundo gira como costume. Cima é cima, baixo lá em baixo...
Relativizar...
"It's all been done before" como dizia a pita Lavigne :)
Acima de tudo aceitar a similaridade a pessoas com as quais não temos relação nem necessáriamente pontos em comum. O que a nós nos fazem as circunstâncias fazem também a outros. Piores situações foram já resolvidas por humanos como nós.
Calma, raciocínio e um sorriso.
Sem nunca abandonar o real, mas conscientes dos limites e relatividade das coisas.